Rio Tietê pede socorro: toxinas estão matando os peixes e ameaçam a saúde
Todo o Baixo Tietê está contaminado com cianobactérias

Há mais de uma semana, a população da região do Noroeste Paulista tem registrado imagens das margens do Baixo Tietê em que mostram a água coberta por um lodo verde e diversos animais mortos, como camarões, peixes e arraias. A Polícia Ambiental e a Cetesb, órgão ambiental do estado de São Paulo, já divulgaram que estão investigando as causas dessa situação da água.
Um grupo de biólogos de Araçatuba realizou análises em amostras de água do rio Tietê e identificou a presença massiva de cianobactérias nas águas esverdeadas. Esses organismos podem ser altamente tóxicos e representam um sério risco ambiental e à saúde humana.
A situação foi comprovada por três pesquisadores: o biólogo Marcelo Oliveira, a estudante de Biologia Ane Monteiro e o pesquisador Antonio Melhado. Eles compartilharam as informações em redes sociais nesta segunda-feira, 14.
De acordo com o que foi divulgado, a proliferação dessas cianobactérias está ligada à eutrofização, que é o excesso de nutrientes, principalmente fósforo e nitrogênio, provenientes de esgoto e atividades agrícolas.
Além disso, as altas temperaturas da água agravam o problema, pois favorecem o crescimento acelerado das cianobactérias e reduzem a solubilidade do oxigênio na água. Tudo isso dificulta a sobrevivência da fauna aquática e reduz a biodiversidade desse ambiente.
Também foi verificada a liberação de microcistina na água, uma toxina perigosa ao fígado de animais e humanos e potencialmente cancerígena. A intoxicação pode ocorrer por contato, ingestão ou inalação da água contaminada. Por isso, a recomendação é que a população fique longe do rio enquanto ele estiver nesta situação.
Além da contaminação ao ambiente e à saúde, tem ainda os impactos econômicos, pois a situação do rio causa prejuízos à pesca e ao turismo local e ocasiona no aumento dos custos no tratamento da água potável.
A situação é preocupante
Em entrevista à Folha da Região/Sampi, o biólogo Marcelo Oliveira elencou as ações que são necessárias para a recuperação do rio Tietê:
- Controle de nutrientes: é fundamental melhorar o tratamento de esgoto e reduzir o uso indiscriminado de fertilizantes no entorno das margens do rio.
- Monitoramento constante: é preciso de testes frequentes para diminuir a concentração dessas cianobactérias e das toxinas que elas liberam. Isso deve ser uma prioridade dos órgãos ambientais competentes.
- Tratamento adequado da agua: os sistemas de tratamento precisam ser modernizados para remover as toxinas, garantindo que a água chegue segura às casas.
- Recuperação do ecossistema: restaurar as matas ciliares é essencial para filtrar poluentes antes que cheguem aos rios. Além disso, práticas mais sustentáveis na agricultura precisam ser incentivadas.
Questionado se a
grande poluição do rio Tietê que ocorre na capital do estado pode ter chegado à
região, o biólogo acredita que sim, mas aqui o problema se agrava
principalmente pelo excesso de nutrientes vindos da agricultura e pela falta de
tratamento adequado de efluentes urbanos e industriais.
“Como é o caso de Bauru que joga 96% de todo seu esgoto em afluentes do Tietê e
que acabam chegando ao rio. Além disso, os reservatórios ao longo do rio fazem
com que esses poluentes fiquem represados, criando um ambiente perfeito para a
proliferação das cianobactérias”, afirma.
O biólogo acrescentou que a água que chega ás casas passa por tratamento, mas a presença das cianotoxinas representa um grande risco. “Se as estações de tratamento não forem adaptadas para lidar com esse tipo de poluente, o consumo contínuo pode representar um perigo silencioso para a população”.
Diante dos fatos, o pesquisador já enviou suas descobertas para a GS Inima SAMAR, concessionária responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto em Araçatuba.
Marcelo também explica que, se não forem tomadas as devidas providências pelo órgão ambiental competente, “em 10 a 20 anos algumas áreas podem se tornar biologicamente mortas, sem oxigênio para sustentas a vida aquática. Em um cenário ainda pior, em 30 a 50 anos, o rio pode se transformar em um grande canal de água tóxica, inviabilizando até mesmo seu uso para abastecimento”.
Fonte: sampi.net.br
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